Servília (gente)

"Bruto", de Michelângelo. Bruto adotou o nome de Quinto Servílio Cepião Bruto depois de ter sido adotado por seu tio pelo lado materno, Quinto Servílio Cepião
1538. No Museu Nacional do Bargello, em Florença.

Servília (em latim: Servilia; pl. Servilii) era uma antiga gente patrícia da Roma Antiga muito celebrada nos primeiros anos da República Romana e uma das mais presentes nos Fastos Consulares. Foram membros dela muitos dos mais influentes romanos até os últimos anos da República e mesmo durante o período imperial. O primeiro membro da gente a chegar ao consulado foi Públio Servílio Prisco Estruto, em 495 a.C., e o último foi Quinto Servílio Silano, cônsul em 189, o que sublinha a posição proeminente da família no estado romano por quase setecentos anos.

Como outras gentes romanas, os Servílios tinham sua própria sacra: diz-se que eles veneravam um "triens" (uma moeda de cobre) que acreditavam aumentar ou diminuir em tamanho durante os anos de acordo com o prestígio da gente. Embora os Servílios fossem originalmente patrícios, no final da República havia também ramos plebeus da gente Servília[1][2][3].

Origem

Segundo a tradição, a gente Servília era uma das casas nobres de Alba Longa levadas a Roma por Túlio Hostílio e listada por ele entre os patrícios. Era, por isto, uma das gentes minores. O nomen "Servilius" é um sobrenome patronímico, derivado do prenome "Servius", que significa "aquele que guarda ou preserva", que deve ter sido o nome de um ancestral da gente[4][5].

Prenomes

Os diferentes ramos dos Servílios utilizavam conjuntos ligeiramente diferentes de prenomes (em latim: praenomina). As estirpes mais antigas utilizavam Públio, Quinto, Espúrio e Caio. Os Servílios Cepiões utilizavam primariamente Cneu e Quinto. Os Servílios Gêminos utilizavam Cneu, Quinto, Públio, Caio e Marco. Os ancestrais dos Servílios devem ter utilizado Sérvio, mas nenhuma família o utilizou em tempos históricos[1].

Ramos e cognomes

Os Servílios estavam divididos em numerosas famílias. No período republicano eram os Aalas (Ahala), Áxilas (Axilla), Cepiões (Caepio), Cascas (Casca), Gêminos (Geminus), Gláucios (Glaucia), Glóbulos (Globulus), Priscos (com o agnome Fidenato; Priscus Fidenas), Rulo (Rullus), Estruto (Estructo), Tuca (Tucca) e Vácia (com o agnome Isáurico; Vatia Isauricus). Estrutos, Priscos, Aalas e Cepiões eram patrícios e os Cascas, plebeus. Outros cognomes apareceram durante o Império. Destes, os únicos atestados em moedas foram Aala, Cepião e Rulo[1][6].

O cognome Estruto quase sempre ocorre em ligação com os Priscos e Aalas. O único Estruto mencionado apenas por este cognome é Espúrio Servílio Estruto, tribuno consular em 368 a.C.. Como "Estruto" aparece com duas das mais antigas famílias dos Servílios, nenhuma das quais claramente pré-datando a outra, pode indicar que uma pessoa com este cognome pode ter sido ancestral das duas grandes casas[1].

Os Priscos eram uma antiga família da gente Servília e ocuparam os cargos mais altos do estado durante os primeiros anos da República. Eles também utilizavam o agnome "Estruto", que é sempre ligado ao nome deles nos Fastos Consulares até ser suplantado por "Fidenato", que foi obtido pela primeira vez por Quinto Servílio Prisco Estruto Fidenato, que conquistou Fidenas durante sua ditadura, em 435 a.C., e passou a ser utilizado por seus ancestrais[1].

Os Aalas, do qual "Áxilas" é apenas uma outra forma escrita, é o diminutivo de "ala" ("asa"). Uma lenda muito popular relata que o cognome foi dado primeiro a Caio Servílio Estruto, mestre da cavalaria em 439 a.C., pois ele escondeu a faca com a qual matou Espúrio Mélio em sua axila (um outro significado de "ala"). Porém, este não parece ter sido o caso, pois nome já era utilizado pela família por pelo menos uma geração antes do evento[1].

Membros

Servílios Priscos

Servílios Aalas

Servílios Estrutos

Servílios Cepiões

Servílios Gemini

Servílios Cascas

  • Caio Servílio Casca, tribuno da plebe em 212 a.C., não conseguiu intervir em prol de seu parente, Marco Postúmio Pirgense[28].
  • Públio Servílio Casca Longo, um dos assassinos de César, morreu pouco depois da Batalha de Filipos em 42 a.C..
  • Caio Servílio Casca, irmão de Públio, e outro dos assassinos de César.

Servílios Vácias

Servílios Rulos

Outros

  • Caio Servílio Tuca, cônsul em 284 a.C..[2]
  • Servília, esposa de Quinto Lutácio Cátulo, cônsul em 102 a.C.[31].
  • Caio Servílio Gláucia, pretor em 100 a.C., aliado de Lúcio Apuleio Saturnino, com quem pereceu.
  • Quinto Servílio, pretor em 90 a.C., foi assassinado em 90 a.C. pelos habitantes de Ásculo Piceno quando irrompeu a Guerra Social.
  • Públio Servílio, um equestre, líder de uma das companhias que coletavam impostos na Sicília durante a administração de Caio Verres[32].
  • Públio Servílio Glóbulo, tribuno da plebe em 67 a.C..
  • Caio Servílio, um cidadão da Sicília, açoitado em público por Verres[33].
  • Marco Servílio, acusado de "repetundae" ("rapinagem" ou "confisco ilegal") em 51 a.C.[34].
  • Marco Servílio, tribuno da plebe em 44 a.C., elogiado por Cícero como um "vir fortissimus"[35].
  • Marco Servílio Noniano, cônsul em 35 e um dos mais celebrados oradores e historiadores de seu tempo.
  • Servílio Damócrates, um médico em Roma durante o século I.
  • Servília, filha de Quinto Márcio Bareia Sorano, acusada e condenada à morte com ele em 66.
  • Quinto Servílio Pudente, cônsul em 166[2][36].
  • Marco Servílio Silano, cônsul em 188[2].
  • Quinto Servílio Silano, cônsul em 189[2].

Árvore genealógica

Servílios Priscos

Gente Servília Prisco
Gens Servilia - cognome: Prisci
Árvore genealógica
dos Servílios Priscos
(~550 a.C.–~350 a.C.)
Públio Servílio Prisco Estruto
Públio Servílio Prisco Estruto
cons. em 495 a.C.
Quinto Servílio Prisco Estruto
mag. equitum em 494 a.C.[37]
Espúrio Servílio Prisco Estruto
cons. em 476 a.C.
Quinto Servílio Prisco Estruto
cons. em 468 e 466 a.C.
Públio Servílio Prisco
cons. em 463 a.C.
Quinto Servílio Prisco Estruto Fidenato
dit. em 435 e 418 a.C.
Quinto Servílio Prisco Fidenato
trib. cons. em 402, 398, 395, 390, 388 e 386 a.C.
Quinto Servílio Prisco Fidenato
trib. con. em 382, 378 e 369 a.C.[38]

Período tardio

Gente Servília
Gens Servilia
Cn. Servílio
C. Servílio
Q. Servílio
Cn. Servílio Cepião
cônsul em 253 a.C.
Q. Servílio Gêmino
P. Servílio Gêmino
cônsul em (i) 252, (ii) 248 a.C.
Cn. Servílio Cepião
Cn. Servílio Gêmino
cônsul em 217 a.C.
C. Servílio Gêmino
mudou para a plebe
pr. c. 220, prisioneiro entre 218-203 a.C.
Cn. Servílio Cepião
cônsul em 203 a.C.
M. Servílio
trib. mil. em 203 a.C.
C. Servílio Gêmino
cônsul em 203, dit. em 202 a.C.
M. Servílio Pulex Gêmino
cônsul em 202 a.C.
P. Servílio
decenv. em 201 a.C.
Q. Cecílio Metelo
cônsul em 206 a.C.
Cn. Servílio Cepião
cônsul em 169 a.C.
Servílio Gláucia
emissário em 162 a.C.
C. Servílio
edil pleb. em 173 a.C.
M. Servílio
trib. mil. em 181 a.C.
Q. Cecílio Metelo Macedônico
cônsul em 143 a.C.
Q. Fábio Máximo Serviliano
cônsul em 142 a.C.
Cn. Servílio Cepião
cônsul em 141 a.C.
Q. Servílio Cepião
cônsul em 140 a.C.
C. Servílio Vácia
m. 127 a.C.
Cecília Metela
Q. Cecílio Metelo Baleárico
cônsul em 123 a.C.
Q. Fábio Máximo Eburno
cônsul em 116 a.C.
Cn. Servílio Cepião
m. c. 105 a.C.
Q. Servílio Cepião
cônsul em 106 a.C.
Servília
Q. Lutácio Cátulo
cônsul em 102 a.C.
M. Servílio
m. 100 a.C.
C. Servílio
pr. em 102 a.C.
Q. Fábio Máximo
m. depois de 100 a.C.
Servília
n. c. 105 a.C.
Ap. Cláudio Pulcro
cônsul em 54 a.C.
Q. Lutácio Cátulo
cônsul em 78 a.C.
Lutácia (1)
Q. Hortênsio Hórtalo (2)
cônsul em 69 a.C.
Servília
m. c. 95 a.C.
M. Lívio Druso
tr. plebe
M. Pórcio Catão (2)
m. c. 93
Livia Drusa
m. c. 92 a.C.
(1) Q. Servílio Cepião
pr. em 91 a.C.
Q. Hortênsio
pr. em 45 a.C.
Hortênsia
m. depois de 43 a.C.
M. Júnio Bruto, o Velho
m. 77 a.C.
Servília Cepião
D. Júnio Silano
cônsul em 62 a.C.
Atília (1)
M. Pórcio Catão (1,3)
m. 46 a.C.
(2,3) Márcia (2)
Q. Servílio Cepião
m. 67 a.C.
Cláudia (1)
m. c. 54 a.C.
M. Júnio Bruto (2)
assassino de César
m. 42 a.C.
Pórcia Catão (2)
m. 45 a.C.
(1) M. Calpúrnio Bíbulo
cônsul em 59 a.C.
P. Servílio Vácia Isáurico
cônsul em 79 a.C.
M. Emílio Lépido
cônsul em 78 a.C.
P. Servílio Vácia Isáurico
cônsul em (i) 48 e (ii) 41 a.C.
Júnia Prima
Júnia Tércia
C. Cássio Longino
pr. em 44 a.C.
Júnia Segunda
M. Emílio Lépido
cônsul em (i) 46 e (ii) 42 a.C., triúnviro
L. Emílio Lépido Paulo
cônsul em 50 a.C.
P. Servílio Vácia
pr. em 25 a.C.
Servília
noiva de Otaviano, m. 30 a.C.
M. Emílio Lépido
n. c. 55 a.C., m. 30 a.C.
Q. Emílio Lépido
cônsul em 21 a.C.
Emília Lépida
L. Emílio Lépido Paulo
cônsul em 34 a.C.

Referências

  1. a b c d e f Smith, Servilii
  2. a b c d e f g h Fastos Capitolinos.
  3. Plínio, História Natural xxxiv. 13. s. 38.
  4. Lívio, Ab Urbe Condita i. 30.
  5. George Davis Chase, "The Origin of Roman Praenomina", in Harvard Studies in Classical Philology, vol. VIII (1897).
  6. Joseph Hilarius Eckhel, Doctrina Numorum Veterum, v. p. 308 ff.
  7. Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades Romanas vi. 40.
  8. Lívio, Ab Urbe Condita iii. 6, 7.
  9. Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades Romanas ix. 67, 68.
  10. Paulo Orósio, Historiarum Adversum Paganos Libri VII, ii. 12.
  11. Lívio, Ab Urbe Condita vi. 22, 31, 36.
  12. Lívio, Ab Urbe Condita vi. 31.
  13. Lívio, Ab Urbe Condita ii. 49.
  14. Lívio, Ab Urbe Condita iv. 30.
  15. Lívio, Ab Urbe Condita iv. 45, 46.
  16. Lívio, Ab Urbe Condita vii. 22, 38.
  17. Lívio, Ab Urbe Condita vi. 38.
  18. Diodoro Sículo, Bibliotheca Historica, xv. 78.
  19. Cícero, Epistulae Atticum, xii. 5, De Finibus Bonorum et Malorum, ii. 16, In Verrem, i. 55.
  20. Frontino, De Aquaeductu, 8.
  21. Veleio Patérculo, Compendium of Roman History, ii. 10.
  22. Cícero, Pro Fonteio 14.
  23. Lívio, Ab Urbe Condita Epit. LXXII.
  24. Apianous, Bellum Civile, ii. 14.
  25. Suetônio, De Vita Caesarum, Caesar 21.
  26. Plutarco, Vidas Paralelas, Caesar, 14, Pompeius, 47.
  27. Valério Máximo, Nove Livros de Feitos e Dizeres Memoráveis, i. 8. § 11.
  28. Lívio, Ab Urbe Condita xxv. 3.
  29. Lucius Cassius Dio Cocceianus, Roman History, xlviii. 28.
  30. Apianous, Bellum Civile, v. 58.
  31. Cícero, In Verrem, ii. 8.
  32. Cícero, In Verrem, iii. 71.
  33. Cícero, In Verrem, v. 54.
  34. Cícero, Epistulae Familiares, viii. 8 § 3, Epistulae Atticum, vi. 3 § 10.
  35. Cícero, Epistulae Familiares, xii. 7, Philippicae, iv. 6.
  36. História Augusta, Alexander Severus, Commodus, 11.
  37. Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades Romanas, vi. 40.
  38. Lívio, Ab Urbe Condita, vi. 22, 31, 36.

Ligações externas