Mânlia (gente)

A gens Mânlia (em latim: Manlia; pl. Manlii) era uma das mais antigas e mais nobres casas patrícias na Roma Antiga, dos primeiros dias da República até a época imperial. O primeiro membra da gens a obter um consulado foi Cneu Mânlio Cincinato, cônsul em 480 a.C. A família era uma das chamadas gentes maiores, as mais importantes famílias patrícias[1].

Origem da gens

Dizia-se na época que os Mânlios eram originários dos antigos latinos da cidade de Túsculo. O nome (nomen) Mânlia pode ser um sobrenome patronímico baseado no prenome (praenomen) Mânio, que se presume ser o nome de um ancestral da gens. A gens Manília também deriva do mesmo nome. Porém, é importante notar que Mânio é um nome que não foi utilizado por nenhum dos Mânlios no registro histórico[1].

Prenomes usados pela gens

Os Mânlios utilizaram os prenomes Públio (Publius), Cneu (Gnaeus), Aulo (Aulus), Lúcio (Lucius) e Marco (Marcus). Os Mânlios Torquatos (Manlii Torquati) também favoreciam o nome Tito (Titus), utilizando-o na maioria dos casos, seguido por Aulo e Lúcio[1].

Uma bem-conhecida história relata que depois que Marco Mânlio Capitolino foi condenado por traição, o Senado romano decretou que daí em diante mais ninguém de sua gens deveria utilizar mais o prenome "Marco". Porém, trata-se de uma lenda que pode ter se originado como foram de explicar o uso escasso do nome na família e há casos onde ele foi usado em gerações posteriores[1].

Ramos e cognomina da gens

Os mais antigos cognomes encontrados entre os Mânlios são os Cincinatos (Cincinnatus), mais conhecido como cognome dos Quíncios (Quinctii). Este nome, provavelmente uma referência a uma pessoa com o cabelo fino e encaracolado, pode ter sido um sobrenome pessoal, pois ele não parece ter sido utilizado pelas gerações posteriores. O cognome Vulsão apareceu logo em seguida e este ramo da família prosperou por mais de trezentos anos. Diversos outros Mânlios primitivos aparecem nos registros sem cognomina[1].

A família dos Capitolinos (Capitolini) era descendente dos Vulsões (Vulsãones) e aparece no início do século IV a.C. O sobrenome Capitolino (Capitolinus) provavelmente indica que a família vivia no monte Capitolino, embora o papel de Marco Mânlio em salvar o Capitolino dos gauleses durante a Batalha do Ália em 390 a.C. também apareça como sendo a origem do nome. O sobrenome foi utilizado por um tempo relativamente curto entre os Mânlios, sendo logo superado por Torquato. Imperioso (Imperiosus) foi um cognome utilizado por alguns Capitolinos e Torquatos, uma referência aos seus modos "imperiais"[1].

Os Torquatos (Torquati) eram descendentes dos Capitolinos e obtiveram o sobrenome de Tito Mânlio Torquato, dito Imperiosus, que derrotou um gaulês gigante durante uma batalha em 361 a.C. e tomou seu torque como troféu e passou a usá-lo no seu próprio pescoço. Os descendentes de Torquato continuaram proeminentes até as décadas finais da República[1].

Os Mânlios Acidinos (Manlii Acidini) ganharam importância durante a Segunda Guerra Púnica e, como os Torquatos, controlavam os cargos mais altos do estado dali até o final da República[1].

Membros da gens

Primeiros Mânlios

Mânlios Vulsões

  • Cneu Mânlio Vulsão, cônsul em 474 a.C.
  • Aulo Mânlio Vulsão, decênviro em 451 a.C.
  • Marco Mânlio Vulsão, tribunus militum consulari potestate em 420 a.C.[2]
  • Aulo Mânlio Vulsão Capitolino, tribunus militum consulari potestate em 405, 402 e 397 a.C.[3][4]
  • Públio Mânlio Vulsão, tribunus militum consulari potestate em 400 a.C.[5]
  • Caio Mânlio Vulsão, tribunus militum consulari potestate em 379 a.C.[6]
  • Lúcio Mânlio Vulsão Longo, cônsul em 256 e 250 a.C.
  • Lúcio Mânlio Vulsão, pretor em 218 a.C. e candidato derrotado a cônsul em 216 a.C.[7]
  • Públio Mânlio Vulsão, pretor em 210 a.C., recebeu a Sardenha como província pessoal[8]
  • Cneu Mânlio Vulsão, cônsul em 189 a.C.
  • Lúcio Mânlio Vulsão, pretor em 197 a.C., recebeu a Sicília como província pessoal[9][10]
  • Aulo Mânlio Vulsão, cônsul em 178 a.C.

Mânlios Capitolinos

Mânlios Torquatos

  • Tito Mânlio Imperioso Torquato, ditador em 353, 349 e 320; cônsul em 347, 344 e 340 a.C.
  • Tito Mânlio Torquato, filho do anterior, executado pelo pai por desobedecer uma ordem em 340 a.C.
  • Tito Mânlio Torquato, cônsul em 299 a.C., morto ao cair de um cavalo.
  • Lúcio Mânlio Torquato, legado de Lúcio Cornélio Cipião Barbado na grande campanha de 295 a.C.[14]
  • Aulo Mânlio Torquato Ático, cônsul em 244 e 241 a.C.
  • Tito Mânlio Torquato (m. 202 a.C.), cônsul em 235 e 224; ditador em 208 a.C.
  • Aulo Mânlio Torquato, neto de Ático (acima)[4]
  • Tito Mânlio Torquato, cônsul em 165 a.C.
  • Aulo Mânlio Torquato, cônsul em 164 a.C.
  • Tito Mânlio Torquato, testemunha de defesa de Cneu Plâncio em 54 a.C.[15]
  • Aulo Mânlio Torquato, propretor da África c. 70 a.C.[16]
  • Lúcio Mânlio Torquato, cônsul em 65 a.C.
  • Aulo Mânlio Torquato, pretor em 52 a.C., aliado de Pompeu Magno durante a guerra civil.
  • Lúcio Mânlio Torquato, partidário de Pompeu, foi preso e morto em 46 a.C.
  • Tito Mânlio Torquato, questor de Caio Víbio Pansa Cetroniano em 43 a.C.

Mânlios Acidinos

Outros

Referências

  1. a b c d e f g h Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology, William Smith, Editor
  2. Tito Lívio, Ab Urbe Condita, iv. 44.
  3. a b Tito Lívio, Ab Urbe Condita, iv. 61, v. 8, 16.
  4. a b c d Fasti Capitolini Consulares et Triumphales.
  5. Lívio, Ab Urbe Condita V, 12
  6. Lívio, Ab Urbe Condita VI, 3, 30
  7. Tito Lívio, Ab Urbe Condita, xxii. 35.
  8. Tito Lívio, Ab Urbe Condita, xxvi. 23, xxvii. 6, 7.
  9. Tito Lívio, Ab Urbe Condita, xxxii. 27, 28, xxxviii. 20
  10. Políbio, As Histórias, xxii, 25, 26.
  11. Tito Lívio, Ab Urbe Condita, iv. 23.
  12. Tito Lívio, Ab Urbe Condita, iv. 42.
  13. Tito Lívio, Ab Urbe Condita, vi. 30.
  14. Tito Lívio, Ab Urbe Condita, x. 26.
  15. Cícero, Pro Plancio, 11, Bruto, 70.
  16. Cícero, Pro Plancio, 11, Bruto, 11.
  17. Tito Lívio, Ab Urbe Condita, xlii. 49.
  18. Salústio, Guerra Jugurtina, 86, 90, 102.
  19. Dião Cássio, História romana, xxxvii. 47.
  20. Ascônio Pediano, in Cic. Mil. p. 56.
  21. Der Neue Pauly, Stuttgardiae 1999, T. 7, c. 828
  22. Tácito, Anais, xii. 40; Historiae, i. 64.
  23. Dião Cássio, História Romana, lxvii. 14.

Ligações externas