Forma diferencial

Em geometria diferencial, uma forma diferencial é um objeto matemático pertencente a um espaço vetorial que aparece no cálculo multivariável, cálculo tensorial ou em física. Pode ser comumente entendida como um operador multilinear antissimétrico definido sobre o espaço vetorial tangente a uma variedade diferenciável. Em um espaço ou variedade de dimensão n, podem definir-se 0-formas, 1-formas, ... e n-formas. Pela propriedade da antissimetria, as k-formas para k > n são identicamente nulas.

O conceito de forma diferencial é uma generalização sobre ideias prévias como o gradiente, a divergência, o rotacional, etc. Essa generalização e a moderna notação usada no estudo das formas diferenciais se deve a Elie Cartan.

Definição

Relembrando algumas definições: Um k-Tensor em um Espaço vetorial V é um k-funcional linear f : V × × V R . {\displaystyle f:V\times \dots \times V\to \mathbb {R} .} Um k-Tensor f {\displaystyle f} é alternado se, para qualquer permutação σ S k {\displaystyle \sigma \in S_{k}} , f ( v σ ( 1 ) , , v σ ( k ) ) = sgn ( σ ) f ( v 1 , , v k ) , {\displaystyle f(v_{\sigma (1)},\dots ,v_{\sigma (k)})=\operatorname {sgn}(\sigma )f(v_{1},\dots ,v_{k}),} onde sgn ( σ ) {\displaystyle \operatorname {sgn}(\sigma )} é a função Função sinal da permutação σ . {\displaystyle \sigma .} [1]

Uma k-forma diferencial em uma variedade M é um funcional ω {\displaystyle \omega } que associa a cada ponto p M {\displaystyle p\in M} um k-funcional ω p Λ k ( T p M ) {\displaystyle \omega _{p}\in \Lambda ^{k}(T_{p}^{*}M)} , onde T p M {\displaystyle T_{p}^{*}M} denota o espaço dual ao espaço tangente de M {\displaystyle M} em p {\displaystyle p} denotado por T p M {\displaystyle T_{p}M} e Λ k ( T p M ) {\displaystyle \Lambda ^{k}(T_{p}^{*}M)} é descrito como sendo o espaço vetorial de todos os k-tensores alternados em T p M {\displaystyle T_{p}^{*}M} .[1]

0-formas, 1-formas e k-formas

O exemplo não trivial mais notável de uma forma diferencial é constituído pelas 1-formas, também chamadas formas pfaffianas. Essas formas são a maneira rigorosa de tratar os diferenciais das funções reais sobre uma variedade (para funções ordinárias a variedade é simplesmente o espaço euclidiano, R n {\displaystyle \mathbb {R} ^{n}} ). As 1-formas também aparecem em física, assim, por exemplo, as "diferenciais" das variáveis de estado usadas em termodinâmica são de fato 1-formas (ainda que o tratamento informal das mesmas despreze esse fato). Na geometria diferencial, o estudo das variedades diferenciáveis, as 1-formas atuam como funções lineares reais definidas sobre o espaço vetorial tangente à variedade diferencial que se está considerando. Assim pois o conjunto de todas as 1-formas definidas em um ponto da variedade é isomorfo ao espaço dual do espaço vetorial tangente neste ponto.

Outro exemplo, um tanto trivial, são as funções reais definidas sobre uma variedade, que podem ser tratadas formalmente como 0-formas. O nome é justificado porque existe um operador denominado diferencial exterior que aplica k-formas em k+1-formas; dado que a diferencial exterior de uma função real é 1-forma é conveniente se chamar 0-formas aos objetos matemáticos, como as funções reais, cuja diferencial é uma 1-forma. Assim, por exemplo, as funções de estado da termodinâmica, a lagrangiana da mecânica lagrangiana ou o hamiltoniano da mecânica hamiltoniana são de fato 0-formas definidas sobre os respectivos espaços de configuração ou espaços de fases do sistema físico.

Finalmente, e usando o maior nível de generalidade se definem as k-formas, uma forma de grau k, ou k-forma, é uma seção diferenciável da k-ésima potencia exterior do fibrado cotangente da variedade. Em qualquer ponto P em uma variedade, uma k-forma resulta em uma função multilinear desde a potência cartesiana k-ésima do espaço tangente em P a ℝ.

Algumas definições formais

  1. O conjunto de todas as k-formas definidas no espaço vetorial tangente de um ponto x de uma variedade se chama Λ x k {\displaystyle \Lambda _{x}^{k}} .
  2. O conjunto de todas as formas diferenciais sobre uma variedade de dimensão n, que resulta ser Λ x = Λ x 0 Λ x 1 Λ x n {\displaystyle \Lambda _{x}=\Lambda _{x}^{0}\oplus \Lambda _{x}^{1}\oplus \dots \oplus \Lambda _{x}^{n}} , é a álgebra de Grassmann da variedade e é em si mesma um espaço vetorial de dimensão 2n.
  3. Existe um operador, chamado diferencial exterior d : Λ x k 1 Λ x k 1 k n {\displaystyle d:\Lambda _{x}^{k-1}\to \Lambda _{x}^{k}\qquad 1\leq k\leq n}
  4. Uma k-forma diferencial ω {\displaystyle \omega \,} se chama fechada se seu diferencial exterior é zero, ou seja, d ω = 0 {\displaystyle d\omega =0\,} .
  5. Uma k-forma diferencial α {\displaystyle \alpha \,} se denomina exata se existe outra uma (k-1)-forma β {\displaystyle \beta \,} tal que sua derivada exterior é precisamente α {\displaystyle \alpha \,} , ou seja, α = d β {\displaystyle \alpha =d\beta \,} .

Integração das formas

Ver artigo principal: Teorema de Stokes

Em uma variedade diferenciável de dimensão n k {\displaystyle n\geq k} pode-se definir o análogo da longitude de uma curva, a área de uma superfície, o volume, ou em geral o k-volume.

Cada um dos conceitos métricos anteriores é calculado como a integração de uma forma diferencial sobre um subconjunto da variedade diferenciável. Assim o conceito de longitude está associado com 1-formas, o de área com 2-formas (elemento de área), o de volume com 3-formas (elemento de volume), etc.

Matematicamente, as formas diferenciáveis de grau k podem ser integradas sobre cadeias k dimensionais ou mais geralmente conjuntos de dimensão topológica k. Se k = 0, isto é simplesmente a avaliação de funções nos pontos. Outros valores de k = 1, 2, 3 correspondem às integrais de linha, às integrais superficiais, às integrais de volume, etc. Um resultado muito importante, relacionado com a integração de formas se chama teorema de Stokes (do qual a regra de Barrow para integrais ou o teorema da divergência são casos particulares).

Operações em formas

O conjunto de todas as k-formas em uma variedade são um espaço vetorial. Além disso, há duas outras operações: "cunha" e derivada exterior. Ver cohomologia de Rham para mais detalhes.

A relação fundamental entre a derivada exterior e a integração é dada pelo teorema de Stokes generalizado, que também proporciona a dualidade entre a cohomologia de Rham e a homologia de cadeias.

Formas diferenciais em física

Em física, o uso de formas diferenciais é comum em várias áreas, por exemplo, a termodinâmica e a teoria da relatividade.

Em termodinâmica é prática comum chamar formas pfaffianas às 1-formas. Lamentavelmente, a maior parte dos manuais recorre ao uso convencional destes objetos de uma forma pouco ou nada rigorosa. Igualmente se pode chamar diferenciais exatas às 1-formas exatas.

Referências

  1. a b Tu, Loring W. (2010). An Introduction to Manifolds. New Yoek: Springer. p. 200. ISBN 9781441974006 

Bibliografia

  • Bachman, David (2006), A Geometric Approach to Differential Forms, Birkhauser, ISBN 978-0-8176-4499-4
  • Flanders, Harley (1989), Differential forms with applications to the physical sciences, Mineola, NY: Dover Publications, ISBN 0-486-66169-5
  • Fleming, Wendell H. (1965), "Chapter 6: Exterior algebra and differential calculus", Functions of Several Variables, Addison-Wesley, pp. 205–238 . Este livro texto em cálculo multivariável introduz a álgebra exterior algebra de formas diferenciais no cálculo de nível superior
  • Morita, Shigeyuki (2001), Geometry of Differential Forms, AMS, ISBN 0-8218-1045-6
  • Rudin, Walter (1976), Principles of Mathematical Analysis, New York: McGraw-Hill, ISBN 0-07-054235-X
  • Spivak, Michael (1965), Calculus on Manifolds, Menlo Park, CA: W. A. Benjamin, ISBN 0-8053-9021-9
  • Zorich, Vladimir A. (2004), Mathematical Analysis II, Springer, ISBN 3-540-40633-6

Ligações externas