Fanny Eaton
Fanny Eaton | |
---|---|
Nascimento | 23 de junho de 1835 Saint Andrew |
Morte | 4 de março de 1924 Hammersmith and Fulham |
Ocupação | modelo, empregada doméstica, Faxineira |
Movimento estético | Irmandade Pré-Rafaelita |
[edite no Wikidata] |
Fanny Eaton (23 de junho de 1835, Saint Andrew, Jamaica - 4 de março de 1924, Londres, Inglaterra) foi uma modelo e empregada doméstica jamaicana. Notabilizou-se como uma das mais reconhecidas modelos da Irmandade Pré-Rafaelita, entre 1859 e 1867, tendo realizado a sua estreia ao público na obra A Mãe de Moisés (The Mother of Moses) de Simeon Solomon, que foi exibida na Academia Real Inglesa em 1860. Durante a sua vida posou também para Dante Gabriel Rossetti, John Everett Millais, Joanna Mary Boyce,[1] Rebecca Solomon e outros pintores.[2]
Biografia
Primeiros Anos
Nascida e registada sob o nome Fanny Antwistle (ou ainda Entwhistle, segundo outros registos da época)[3] a 23 de junho de 1835, em Saint Andrew, Jamaica, apenas dez meses após a promulgação da abolição da escravidão em todo o império britânico, especula-se que a sua mãe, Matilda Foster, seria uma mulher de ascendência africana, nascida na condição de escrava na Elim Estate de Saint Elizabeth, propriedade então da família Foster (também referida como Forster).[4][5] No seu registo de nascimento apenas constava o nome da sua mãe, sendo também especulado que seria filha ilegítima do soldado britânico James Entwistle, falecido com apenas 20 anos de idade em Saint Catherine e sepultado em Spanish Town a 4 de julho de 1835, onze dias após o nascimento de Fanny.[4][6][7]
Durante a década de 1840, Fanny e sua mãe partiram para Inglaterra, constando nos registos locais que em 1851 ambas viviam em Londres, no número 9 de Steven's Place, em Saint Pancras, e trabalhavam como empregadas domésticas.[8]
Em 1857, Fanny casou-se com James Eaton, fotógrafo de retratos e cocheiro de um hansom cab, nascido a 17 de fevereiro de 1838 em Shoreditch.[9] Juntos, tiveram 10 filhos entre 1858 e 1879.[4]
Carreira como Modelo
Os primeiros trabalhos na Royal Academy of Arts
Para sustentar a sua família, durante o fim da década de 1850, Fanny Eaton começou a posar para vários estudantes de artes na Escola de Pintura da Royal Academy of Arts, onde recebia 5 xelins por cada sessão de modelagem e chegava a realizar cerca de três sessões por dia.[4]
As suas características distintivas foram rapidamente apreciadas e usadas pelos artistas para retratar uma variedade de diferentes etnias e personagens, sobretudo figuras históricas e bíblicas, tendo os seus primeiros estudos sido realizados por Walter Fryer Stocks e Simeon Solomon em 1859. Estes últimos esboços, realizados por Solomon, foram pouco depois utilizados como preparação para a obra Mãe de Moisés (Mother of Moses), onde representava as figuras bíblicas de Jochabed e Miriam. A obra foi exibida na Royal Academy durante a Exposição de 1860.[10]
Musa para os Pré-Rafaelitas
Criando um elo de musa-artista com Simeon Solomon, Fanny Eaton foi então introduzida no círculo dos artistas pré-rafaelistas, começando também a trabalhar como modelo para Rebecca Solomon, Joanna Mary Boyce e Dante Gabriel Rossetti, que a contratou para posar na pintura A Amada (The Beloved) e em vários esboços de retrato,[11] ou ainda Albert Joseph Moore e William Blake Richmond, que a retratou na obra A Escrava (The Slave) (1886).[a][12][13]
A pintura Jefté (Jephthah) de John Everett Millais, realizada em 1867, que revela a modelo de pé, no canto superior direito da tela, terá sido uma das últimas obras onde Fanny Eaton trabalhou como modelo, desconhecendo-se as razões por detrás da sua aposentadoria.[14]
Últimos anos de vida
Em 1881, Fanny Eaton ficou viúva, constando a sua ocupação nos registos locais como costureira. Anos mais tarde, partiu para a Ilha de Wight, onde trabalhou como cozinheira doméstica para Fanny e John Hall, um comerciante de vinhos de Portsea.[4]
Em 1911, após começar a apresentar sintomas de demência senil, passou a residir em Hammersmith, Londres, com sua filha Julia Eaton, o genro Thomas Powell e os netos Baden e Connie Powell.[4]
Após uma longa vida como emigrante da classe trabalhadora, Fanny Antwisle Eaton faleceu em Acton, Londres, a 4 de março de 1924, com 88 anos de idade, vítima de síncope cardíaca. Foi sepultada no Cemitério Margravine Road em Hammersmith.
Legado
Desconhecendo-se muitos poucos dados sobre a musa dos pré-rafaelistas, as pesquisas para resgatar a sua história de vida foram iniciadas no final do século XX, tendo sido descobertas novas representações da mulher nascida na Jamaica e catalogadas nas últimas décadas.[4]
Em 2005 foi realizada a primeira exposição totalmente focada em representações de pessoas negras na arte vitoriana britânica, denominada de Black Victorians: Black People in British Art 1800-1900, em Manchester. As pinturas onde Fanny Eaton era representada receberam um lugar de destaque, com a Mãe de Sísera de Albert Joseph Moore e O Amado de Rossetti em exibição. A crítica respondeu à visualização dessas pinturas de acordo com as novas inquietações do século XXI, fazendo uma análise de como a sua figura poderia ou não ter sido utilizada de forma objetificada. Outro crítico apontou ainda que a pintura de Rossetti era "anglocêntrica", fazendo não só uso de pessoas de outras etnias num papel subserviente mas também revelando como as normas e a estética europeia eram impostas na imagem de como um negro deveria ser, vestir, aparentar ou agir.[15][16][17]
Em 2019 foi realizada a Pre-Raphaelite Sisters Exhibition na National Portrait Gallery em Londres, que marcou um passo no legado de Fanny Eaton.[18]
Desde 2020, Fanny Eaton é celebrada pelo seu papel como "musa artística e a mulher de cor mais visível da Grã-Bretanha vitoriana".[19]
Galeria
Retrato da Sra. Fanny Eaton (1859) Walter Fryer Stocks | O Jovem Professor (1861) Rebeca Salomon | Sra. Fanny Eaton (1859) Simeon Salomon | Cabeça de uma Mulata [Sra. Eaton (1859) Joanna Boyce Wells | A Escrava (1886)William Blake Richmond [a] |
Comemorações
- Em 2018, no 100º aniversário da lei do direito das mulheres ao voto, o jornal The Voice listou Fanny Eaton, Kathleen Wrasama, Olive Morris, Connie Mark, Diane Abbott, Lilian Bader, Margaret Busby e Mary Seacole, as oito mulheres negras que mais contribuiram para o desenvolvimento da Grã-Bretanha.[20]
- De outubro de 2019 a janeiro de 2020, ela foi uma das 12 mulheres incluídas na exposição Pre-Raphaelite Sisters na National Portrait Gallery de Londres.[21]
- Em 26 de abril de 2020, a sua vida e trabalho foi representado num curto documentário de história da arte para o programa da BBC Radio 1 Get Animated! Introducing BBC Arts[22] e o site BBC New Creatives.[23]
- Para marcar o Mês da História Negra em outubro de 2020, a revista Prima nomeou a modelo como uma das seis mulheres negras britânicas – junto com Margaret Busby, Claudia Jones, Mary Prince, Lilian Bader e Olive Morris – que “mudaram o mundo”.[24]
- Em 15 de outubro de 2020, o poeta Maz Hedgehog apresentou um poema sobre Fanny Eaton como parte do segmento de poesia do Mês da História Negra da BBC Blue Peter.[25]
- Em 18 de novembro de 2020, foi homenageada com um Google Doodle.[26]
Lista de representações de Fanny Eaton
Joanna Boyce Wells
- Cabeça de uma Mulata (Sra. Eaton) (1861), pintura a óleo, Centro de Arte Britânica de Yale[27]
- Esboços de Fanny Eaton (1861), desenho a carvão, Museu Britânico[28]
John Everett Millais
- Parables of Our Lord: The Pearl of Great Price (1860), desenho a tinta com alguma aguada de aguarela, Museu Britânico[29]
- Jefté (1867), pintura a óleo, Museu Nacional do País de Gales[30]
Alberto Joseph Moore
- Mãe de Sísera (1861) pintura a óleo, Museu e Galeria de Arte Tullie House[31]
Dante Gabriel Rossetti
- Estudo de uma jovem mulher [Sra. Eaton] (1863-1865), desenho a giz preto e carvão, Centro de Artes Cantor, Universidade de Stanford[32]
- The Beloved (1865) pintura a óleo
Frederick Sandys
- Estudo da cabeça de uma jovem mulata (1859), desenho a giz preto e vermelho, Galeria de Arte NSW[33]
- Estudo de Fanny Eaton; visto de perfil à esquerda (1860) desenho de estudo em giz preto, vermelho e branco, sobre papel amarelo, Museu Britânico.[34]
- Estudo para a cabeça de Morgan le Fay (1862), desenho a lápis e giz vermelho, Museu Victoria e Albert[35]
Rebeca Salomon
- The Young Teacher (1860), pintura a óleo, Museu de Arte da Universidade de Princeton[36]
Simeon Salomon
- Retrato da Sra. Fanny Eaton (1859), Museu Fitzwilliam[37]
- Retrato da Sra. Fanny Eaton, perfil esquerdo (1859), Museu Fitzwilliam[38]
- Retrato de Fanny Eaton (1860), Museu Metropolitano de Arte[39]
- A mãe de Moisés (c. 1860), pintura a óleo, Museu de Arte de Delaware[40]
Walter Fryer Stocks
- Retrato da Sra. Fanny Eaton (1860), desenho em giz preto, vermelho e branco, Museu de Arte da Universidade de Princeton[41]
William Blake Richmond
- A Escrava (1886), pintura a óleo, Galeria Tate[42]
Ver também
Notas
Referências
- ↑ Pina, Stephanie Graham (3 February 2014), "Image of the Week: Head of Mrs. Eaton by Joanna Boyce Wells". Pre-Raphaelite Sisterhood.
- ↑ Ferrari, Roberto C., 2014, "Fanny Eaton: The 'Other' Pre-Raphaelite Model", Columbia University Academic Commons, doi:10.7916/D8X92900.
- ↑ Marsh, Jan (2013). «Pictured at Work: Employment in Art 1800–1900». In: Adi, Hakim Adi; Bressey. Belonging in Europe – The African Diaspora and Work. [S.l.]: Routledge. ISBN 9781317989769
- ↑ a b c d e f g Ferrari, Roberto C. (14 de maio de 2020), «Eaton [née Antwistle/Entwistle], Fanny (1835–1924), artist's model», ISBN 978-0-19-861412-8, Oxford University Press, Oxford Dictionary of National Biography (em inglês), doi:10.1093/odnb/9780198614128.013.90000369549, consultado em 22 de maio de 2022
- ↑ Bressey, Caroline; Adi, Hakim (13 de setembro de 2013). Belonging in Europe - The African Diaspora and Work (em inglês). [S.l.]: Routledge
- ↑ Giles, Laura M. «New Acquisition: Walter Fryer Stocks's Mrs. Fanny Eaton». Princeton University Art Museum
- ↑ Olusoga, David (11 de novembro de 2021). Black and British: An Illustrated History (em inglês). [S.l.]: Pan Macmillan
- ↑ Fuentes, Gabriel J. Jiménez; González, Gabriel Mejía; Haynes, Marisol Joseph (4 de setembro de 2015). Caribbean Without Borders: Beyond the Can[n]on’s Range (em inglês). [S.l.]: Cambridge Scholars Publishing
- ↑ Murdoch, Lydia (1 de outubro de 2013). Daily Life of Victorian Women (em inglês). [S.l.]: ABC-CLIO
- ↑ Seijas, Guadalupe (16 de junho de 2022). Women of the Bible: From Text to Image (em inglês). [S.l.]: Bloomsbury Publishing
- ↑ Surtees, Virginia (1971). The Paintings and Drawings of Dante Gabriel Rossetti (1828–1882). Oxford: Clarendon Press. pp. 204 no. 556
- ↑ Marsh, Jan; Manchester City Art Gallery (2005). Black Victorians: black people in British art 1800–1900. [S.l.]: Lund Humphries. ISBN 0853319308
- ↑ McCabe, Katie (5 de março de 2020). More than a Muse: Creative Partnerships That Sold Talented Women Short (em inglês). [S.l.]: Hardie Grant Publishing
- ↑ «Amgueddfa Cymru – National Museum Wales»
- ↑ Treuherz, Julian (2006). «Black Victorians. Manchester and Birmingham». The Burlington Magazine. 148 (1234): 52–54. ISSN 0007-6287. JSTOR 20074285
- ↑ Gates, Henry Louis (1987). «The Black Person in Art: How Should S/He Be Portrayed? (Part II)». Black American Literature Forum (3): 317–332. ISSN 0148-6179. doi:10.2307/2904034. Consultado em 22 de julho de 2022
- ↑ «Airbrushed out of history: How Victorian Britain portrayed its blacks». The Independent (em inglês). 29 de setembro de 2005. Consultado em 22 de maio de 2022
- ↑ Judah, Hettie (16 de outubro de 2019). «Pre-Raphaelite Sisters review – the heroic women behind the frilly-shirted bro-fest». the Guardian (em inglês). Consultado em 22 de maio de 2022
- ↑ Crowhurst, Anna-Marie (18 de novembro de 2020). «Who was Fanny Eaton? Meet the pre-Raphaelite Victorian muse». Stylist (em inglês). Consultado em 22 de maio de 2022
- ↑ Sinclair, Leah (6 February 2018), "Suffrage 100: The Black Women Who Changed British History", The Voice.
- ↑ «Pre-Raphaelite Sisters». National Portrait Gallery. Consultado em 25 de janeiro de 2020
- ↑ "Get Animated! Introducing BBC Arts", BBC.
- ↑ "Fanny Eaton: The Forgotten Pre-Raphaelite Model", New Creatives, BBC, April 2020.
- ↑ Firth-Bernard, Bryony (7 de outubro de 2020). «The Black women who were true game changers»
- ↑ "Maz Hedgehog: Fanny Eaton", Black History Month: Poems##, BBC.
- ↑ «Celebrating Fanny Eaton». Google. 18 de novembro de 2020
- ↑ Boyce Wells, Joanna (1860). «Head of a Mulatto Woman (Mrs. Eaton)». Yale Center for British Art
- ↑ Boyce Wells, Joanna (1860). «drawing; sketch-book | British Museum». The British Museum (em inglês). Consultado em 30 de maio de 2022
- ↑ «drawing | British Museum». The British Museum (em inglês). Consultado em 29 de maio de 2022
- ↑ Millais, John Everett (1867). «Jephthah». National Museum Wales (em inglês). Consultado em 29 de maio de 2022
- ↑ Moore, Albert Joseph (1861). «The Mother of Sisera». Art UK (em inglês). Consultado em 30 de maio de 2022
- ↑ Rossetti, Dante Gabriel. «Study of a Young Woman [Mrs. Eaton]». Cantor Arts Cente, Stanford University (em inglês). Consultado em 29 de maio de 2022
- ↑ Sandys, Frederick. «Study of the head of a young mulatto woman, full face, circa 1859». Art Gallery of New South Wales (em inglês). Consultado em 30 de maio de 2022
- ↑ Sandys, Frederick (1860). «Study of Fanny Eaton; seen in profile to left». The British Museum (em inglês). Consultado em 29 de maio de 2022
- ↑ Sandys, Frederick (1861). «Study for the head of Morgan le Fay». Victoria and Albert Museum (em inglês). Consultado em 30 de maio de 2022
- ↑ Ludel, Wallace (3 de maio de 2022). «Princeton Museum acquires rare work by Pre-Raphaelite painter Rebecca Solomon». The Art Newspaper - International art news and events. Consultado em 29 de maio de 2022
- ↑ Solomon, Simeon (1859). «Portrait of Mrs Fanny Eaton: PD.55-1959». The Fitzwilliam Museum (em inglês). Consultado em 29 de maio de 2022
- ↑ Solomon, Simeon (1859). «Portrait of Mrs Fanny Eaton, profile left: PD.54-1959». The Fitzwilliam Museum (em inglês). Consultado em 29 de maio de 2022
- ↑ Solomon, Simeon (1860). «Portrait of Fanny Eaton». Metropolitan Museum of Art, New York. Consultado em 29 de maio de 2022
- ↑ Solomon, Simeon. «The Mother of Moses». Delaware Art Museum (em inglês). Consultado em 29 de maio de 2022
- ↑ Stocks, Walter Fryer (1859). «Mrs. Fanny Eaton». Princeton University Art Museum (em inglês). Consultado em 29 de maio de 2022
- ↑ Richmond, William Blake (1886). «The Slave». Tate Gallery (em inglês). Consultado em 29 de maio de 2022
Leitura adicional
- Figes, Lídia (23 de outubro de 2019). "Fanny Eaton: musa pré-rafaelita jamaicana" . ArtUK.org
Ligações externas
- Uma descoberta pré-rafaelita (vídeo da National Portrait Gallery )